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26 de julho de 2015

Moinho de Vento (?) em Valongo

Será um Moinho de Vento ?


Alto da Serra - Valongo
(junto à Capela da Senhora dos Chãos)


Entrada


Vista interior, com abertura na face oposta à entrada

Valongo, concelho limítrofe da cidade do Porto. É um concelho identificado pelo fabrico do pão (e biscoitos) e pela sua oferta ao longo dos tempos, no fornecimento deste produto alimentar, à cidade do Porto.
É um concelho com características rurais, pela sua extensa área territorial, sendo Valongo a sua centralidade. O Rio Ferreira e o Rio Leça são as linhas de água mais importantes que atravessam o concelho impondo na antiguidade a necessidade da existência e laboração de moinhos a eles associados. 
Infelizmente estão praticamente extintos ou fechados/destruídos e com tendência a desaparecerem como em outros concelhos.
Mas a informação que releva este "post" é de que em Valongo não é conhecida a existência de moinhos de vento, embora tenha no seu território vastas áreas passiveis para a sua existência, quer pela altitude, quer pelas correntes de vento que passam nos pontos mais altos existentes.
Esta construção abandonada há mais de 50 anos não é conhecida a sua função. Para uns, é defendido o exercício de moagem de farinha para a fabricação do pão, para outros, esta edificação nunca o foi.
Na minha humilde opinião e de quem nunca se especializou em moinhos, entendo que tudo leva a crer ser um moinho. A típica fachada de entrada, a abertura de luz na face oposta, a existência de pedra boleada, já desgastada, na bordadura do topo da edificação para a eventual circulação de um rodízio (frechal), na movimentação de toda a sua estrutura em função da direcção do vento.
(retirado do livro "Portugal, Terra de Moinhos", 
de Jorge Augusto Miranda e José Carlos Nascimento

História:

"Os primeiros moinhos de vento foram construídos provavelmente na Pérsia, e o seu sistema, mais tarde aproveitado pelos Árabes, foi trazido para a Europa pelos Cruzados no seguimento das suas incursões ao Oriente.
Na Europa o moinho de vento foi sofrendo adaptações e alterações, variáveis de região para região consoante as características geográficas e as características culturais de cada povo."
(www.terravista.pt)

"Segundo a Profª. Drª. Maria Jesus Rubiéra Mata, Abu Zayd ' Abd ar Rahmãn ibn Muqana, poeta, natural de Al-Qabdab (Alcabideche), caracteriza, na viragem, do primeiro milénio (séc. X), a vida rural no actual concelho de Cascais como sendo uma terra bastante rica mas frequentemente visitada por cobradores de impostos, pelo que a opulência era transformada em extrema pobreza. Ibn Muqana, ao utilizar a metáfora da Nora das Nuvens, transforma-se no primeiro escritor da Península Ibérica a referir expressamente a existência de moinhos de vento nestas paragens.
Em 1182, há noticias de um moinho de vento de eixo horizontal na região de Lisboa que foi doado ao Mosteiro de S. Vicente de Fora.
Em 1262, teria existido um moinho de vento de eixo horizontal em Infonte, no termo de Óbidos como é referido no Tombo das Propriedades do Mosteiro de Alcobaça.
Em 1386, terá tido lugar a construção do moinho de maré de Aldeia Galega e do moinho de maré do Montijo.
Em 1403, D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431) mandou construir o moinho de maré de Corroios e os frades carmelitas promoveram a construção de alguns moinhos de maré na margem sul do Tejo.
No século XVI houve uma seca devastadora no centro da Península Ibérica que poderá ter obrigado à procura de novas fontes de energia, como, por exemplo, o vento. Muita gente considera que os cruzados, regressados da Terra Santa, e a Ordem de Malta terão sido os possíveis emissários deste novo tipo de construção.
Neste século teve lugar a divulgação dos moinhos de vento em Espanha e Portugal e a difusão dos moinhos de barcas no Tejo e no Douro. Havia em Lisboa, no principio deste século, 246 atafonas (moinhos movidos por animais) e, no seu termo, 300 moinhos; pelas maquias sabia-se que moíam diariamente 400 moios de trigo.
Nos começos do século XVI o milho maiz foi trazido das Américas pelos espanhóis, aparecendo em Portugal por volta de 1515 e 1520, respectivamente em Coimbra e no Norte. Foi muito bem aceite, estando o seu cultivo, já no séc. XVII, generalizado em todo o país.
Em 1552, segundo João Brandão, havia cerca de 800 atafonas em Lisboa que moíam anualmente cerca de 44.560 moios de trigo, sendo as atafonas domésticas responsáveis pela moagem de 10.000 moios. Com a dinâmica dos descobrimentos, a vida da cidade e dos estaleiros exigia muito apoio, daí este numero elevado de atafonas. Contudo este numero foi diminuindo com o passar dos anos.
No séc. XVII assistimos à difusão do moinho de torre, em Portugal e à construção dos primeiros moinhos de vento nos Açores.
Sob o domínio castelhano, Lisboa terá perdido população com a saída da corte portuguesa, dos nobres, dos artistas e dos estudiosos. Após 1640, com o seu regresso, com alguma estabilidade social conseguida então, a cidade retomou a dinâmica anterior, tendo sido construídos os primeiros moinhos de vento de torre em alvenaria.
Em 1755, havia apenas 216 atafoneiros em Lisboa; mas no dia 1 de Novembro em terramoto destruiu a maior parte da cidade incluindo a maioria dos moinhos de maré que aí, e nas redondezas, existiam. Posteriormente, foram quase todos reconstruídos.
Como consequência de alguns trabalhos de investigação prática no seguimento do terramoto ou por evolução mais ou menos natural, no fim deste século e/ou principio do seguinte terão sido introduzidos as velas latinas nos moinhos de vento, as quais se têm mantido até hoje.
No séc. XIX foram modificados, ou mesmo substituídos, moinhos de rodízio por azenhas. Em meados do século, nos EUA e Austrália, usava-se o moinho de vento de armação para tirar água. No fim do século começava o declínio da utilização dos moinhos de vento, que se estendeu ao séc. XX.
Em 1960 ainda havia cerca de 5.000 moinhos de rodizio em Portugal e em 1968, segundo Jorge Dias, havia 10.000 moinhos em funcionamento em Portugal, sendo 3.000 de vento e 5.000 de água.
Desta pequena referência cronológica aqui apresentada poderá inferir-se que a torre dos moinhos de vento, tal como lhes reconhecemos a forma, será do séc. XVII. Cremos mesmo que os exemplares mais antigos que ainda hoje encontramos datarão desse século. Um século mais tarde, terão sido aplicadas aos moinhos de vento as velas triangulares em pano, as quais melhoraram consideravelmente as suas características."
(www.arteaovento.com.pt)

(retirado do livro "Portugal, Terra de Moinhos", 
de Jorge Augusto Miranda e José Carlos Nascimento

"Um Património de Saberes
Os moinhos de Portugal, são verdadeiras sínteses do encontro humano com a natureza, são expressões genuínas da cultura material das regiões e reflectem também modos de vida, mentalidades, formas de ver o mundo e o lugar dos homens.
Este valioso património, transmitido de geração em geração, apura-se em cada tempo e em cada lugar com invenções e adaptações que acrescentam variedade a um mesmo principio elementar de funcionamento.
Mais conhecidos entre nós pela sua vocação moageira, os moinhos foram aqui aproveitados para industrias tão diversas como a serração de madeiras, o fabrico do azeite, de papel, engenhos de estrigar ou como pisões de lã para o fabrico de borel.
Lidando com elementos primordiais e indissociáveis do pão, pilar da subsistência e ao divino, o sagrado e o profano marcam encontro nos moinhos, trazendo ao trabalho a religiosidade e o imaginário populares, da estética à arquitectura,da mecânica à operatória do moinho.
Dos ventos e grandes rios do litoral aos pequenos regatos nas terras altas, por todo o país, se revelam diferentes soluções para os moinhos sustentadas em sábios equilíbrios com a natureza.
Longa das farinhas de outrora, os moinhos são hoje marcos na paisagem, constituem uma verdadeira oportunidade para qualificar e diferenciar o território, aumentando a sua competitividade acrescentando valor. Num tempo em que a educação, o conhecimento e o turismo sustentável constituem importantes apostas estratégicas do País, a reconstrução dos velhos moinhos ao serviço do desenvolvimento regional, é uma importante tarefa colectiva.
Os moinhos tradicionais são, pois, um património de saberes que importa redescobrir e reinventar para o futuro!"

Rede Portuguesa de Moinhos




2 comentários:

  1. Bom dia,
    Tendo em conta as fotos do blogue, na nossa opinião trata-se de facto de um moinho de vento, embora só uma visita ao local possa dar mais certezas sobre esse facto. De qualquer forma, embora nesse território de Valongo e concelhos menos litorais da região Norte, as condições naturais sejam mais propícias para a existência dos mais comuns moinhos de água, principalmente os de rodízio, existem registos e vestígios actuais de moinhos de vento em vários locais, como seja nos concelhos de Terras de Bouro, Carrazeda de Ansiães ou Fafe, sendo que todos eles são de tipologia semelhante ao moinho das fotografias. Seria interessante que alguém estudasse um pouco mais a história deste engenho e este património local pudesse ser valorizado.
    Cumprimentos,
    Armando Ferreira

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    1. caro Armando Ferreira
      Obrigado pela sua opinião. Na minha humilde opinião tudo o indiciava e por isso despoletei este post. Infelizmente na autarquia e habitantes locais nada sabem sobre esta edificação, ficando sempre na duvida. Grato

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