NOTA: A quem consulte e aprecie este blogue e possa contribuir com comentários, críticas ou correcções têm a minha consideração.
Aqueles que por seu entendimento, possam ser proprietários de alguns elementos fotográficos, e pretendam a retirada dessa foto, agradeço que me seja comunicada para evitar constrangimentos pessoais.

Obrigado.

16 de janeiro de 2014

Porta do séc. XVI - Porto


Pátio das Escadas do Monte dos Judeus, nº 16A e 19, freguesia de Miragaia, Porto - Portugal

Na cidade do Porto ainda existem vestígios de marcas dos nossos antepassados. O exemplo que apresento é de uma porta (a habitação foi já totalmente adulterada) que pertencia a uma residência de família judaica.
Este local correspondia à judiaria que o Porto, em Miragaia, situando-se dentro da sua cidade. Sobre a porta, na padieira, tem uma peça de granito gravada com a data da sua construção "15 de Julho de 1558". Esta peça é uma raridade na cidade e merece ser preservada. Encontra-se numa pequena viela, designada de pátio, mesmo no fim de um conjunto de pequenas casas.

10 de janeiro de 2014

Brasão desconhecido no antigo Museu de Etnografia e História - Porto

Antigo Museu de Etnografia e História da Província do Douro Litoral, largo de S. João Novo, freguesia de Miragaia, Porto

Esta pedra de armas está registada na obra "Pedras de Armas do Porto", de Armando Mattos, e considerada como guardada no edifício do Palacete dos Costa Lima.
Este espaço estava destinado a Museu de Etnografia e História e encontra-se encerrado há décadas sem que as entidades governamentais e locais nada façam para o reabrir.
Infelizmente é-me impossível confirmar se tal peça histórica ainda se encontra lá guardado. Como fotografia está registado no Arquivo Histórico do Porto e proveniente de fotografia tirada pelo Eng. Guilherme Bonfim Barreiros, entre 1943 e 1953, entre muitas outras fotografias tiradas por esta figura conhecida da cidade.
É uma peça renascentista, do séc. XVIII, em granito (?) e desconhecida pelo local da sua origem, tem uma leitura de escudo de fantasia, esquartelado com sobreposto.
A sua leitura é: I - Guerra, II - Vieira, III - (?) e IV - Sá, com sobreposto de Alvo. O timbre terá sido mutilado conjuntamente com o possível elmo.
O terceiro quadrante é para mim uma incógnita, pois não existe qualquer referência na Heráldica Portuguesa para o seu símbolo. 
Agradeço qualquer comentário sobre esta peça, tendo como duvidas mais importantes a sua origem histórica e familiar, para além da simbologia do quadrante em duvida e de ser em granito.

Nota:
Sobre o III quadrante apenas tenho conhecimento da existência na Heráldica Portuguesa dos seguintes nomes com alguma proximidade e que são:
- Camacho (da Andaluzia): castelo com dois pinheiros e duas estrelas;
- Parada: torre com 5 estrelas;
- Ribafria: torre com duas estrelas (6 pontas);
- Varejão: torre com duas estrelas;
- Valdevesso: castelo com uma estrela (8 pontas) e que para mim será esta a simbologia mais próxima da pedra de armas da foto.

3 de janeiro de 2014

Memórias Paroquiais de 1758 - Baltar

O que são as memórias paroquiais de 1758?

São as respostas dos párocos a um Inquérito elaborado pelo Padre Luís Cardoso e enviado a todos os párocos do País, em 1756, e com o total apoio do então Secretário de Estado, Sebastião José Carvalho e Melo (Ministro de D. José I e Marquês de Pombal).
Trata-se de um inquérito tripartido sobre as terras, rios e serras que esperava dos párocos uma resposta minuciosa e expressiva, com a preocupação, também, de saber se o Terramoto de 1755 tinha causado estragos na sua freguesia.
As respostas dadas são um verdadeiro conteúdo histórico de recolha a nivel nacional, permitindo à época perceber o actual estado de cada local do País. 
A seguir apresenta-se a transcrição do documento emitido pelo pároco de Baltar, do concelho de Paredes e que à época era pertença da comarca de Barcelos e era Honra da Casa de Bragança.


Transcrição feita por Manuel Cunha, 27/12/2013

Memórias Paroquiais de 1758 – Baltar

Agostinho Jose Ferreira, Abbade de São Miguel de Baltar da Comarca de Pennafiel deste Bispado do Porto, satisfazendo a Ordem, que recebi em quatro de Março de mil Sete centos, e cincoenta e oito do Excellentissimo, e Reverendissimo Senhor Dom Frey Antonio de Tavora Bispo deste Bispado, para responder aos interrogatórios seguintes.

O que se procura saber desta terra hê o seguinte.
1
Em que Provincia fica, a que Bispado, Comarca, Termo, e Freguezia pertence?
Respondo: pertence à Provincia de Entre Douro, e Minho, Bispado do Porto, Comarca de Barcellos, Termo do Porto, e Freguezia de S. Miguel de Baltar.
2
Se hê de ElRey, ou de Donatario, e quem o he ao prezente?
Respondo: Que ao pretenze o Senhor desta Freguzia he a Serenissima Senhora dos Brasis, Duqueza de Bragança.
3
Quantos Vizinhos tem, e o numero das pessoas?
Respondo: tem duzentos, e nove Vizinhos, pessoas, Sete Centos, e Setenta, e Sete.
4
Se estâ situada em Campina, Valle ou monte, e em que povoações se descobrem della, e quanto dista?
Respondo: Estâ em hum Valle e delle se descobrem alguns montes ao longe na distancia de duas léguas.
5
Se tem termo seu, que lugares, ou Aldêas comprehende, como se chamão, e quantos Vizinhos tem?
Respondo: A este nada.
6
Se a Parochia estâ fora do lugar, ou dentro delle, e quantos lugares, ou Aldêas tem a freguezia, todos pelos seus nomes?
Respondo: Que a Parochia estâ no meyo do lugar, chamado o da Igreja e tem mais os seguintes: Mamôa, Ramos, Tahinde, Cazal de Gas, Ancede, Ribeiro, Fagilde, Gralheira, Sagial, Carvalho, Covelo, Figueira de Porta, Quintâa, Ponte, que fazem o numero de quinze.
7
Qual hê o seu Orago, quantos altares tem, e de que Santos, quantas Naves tem, se tem Irmandades, quantas, e de que Santos?
Respondo: O orago he São Miguel; tem tres altares; o Altar Mor com o Santissimo, o Padroeiro São Miguel, a Senhora do Carmo, e Santa Anna; dous altares Colateraes, hum da Senhora do Rozario com São Gonçallo, outro da Senhora da Conceição com o Menino Deos, e Santo António; não tem naves; tem quatro Irmandades a saber: a do Santissimo Sacramento; a do Su(b)cino, a da Senhora do Rozario, e de São Miguel.
8
Se o Paroco he Cura, Vigario, Reytor, Prior, ou Abbade, e de apresentação he, e que renda tem?
Respondo: he Abbade, a prezentação da Serenissima Caza de Bragança, rende para o Paroco o terço da dizimaria, em que anda arrendada este triennio, em cada hum anno Cento, Oitenta mil reis, e o pé do altar hum anno por outro cincoenta mil reis, e as duas partes da dizimaria são das Religiosas das Chagas de Villaviçoza com a obrigação da Fabrica da Cappella Mór desta Igreja, he tudo omais, que lhe for necessario, a que ellas eitam obrigadas.

Ao nono, decimo, undécimo e duodecimo não temho que responder.

13
Se tem alguas Ermidas e de que Santos, se estão dentro, ou fora do lugar e a quem pertencem?
Respondo: tem duas, a saber; da Senhora da Quintâa junto ao mesmo lugar assim chamado: outra de São Sebastiam com São Silvestre sita quazi no meyo do lugar de Fagilde ao pé da Estrada publica; os devotos são os que tratão dellas.
14
Se acodem a ellas romagem sempre, ou em alguns dias do anno, e quaes são estes?
Respondo: que em dia de São Silvestre vem algua gente em romaria ao Santo à Cappella de São Sebastiam, aonde estã também o dito São Silvestre.
15
Quaes são os frutos da terra, que os moradores recolhem em mayor abundancia?
Respondo: que he milham e Centeyo.
16
Se tem Juiz Ordinario, Camera, ou se estâ sujeita ao Govêrno das Juitiçães de outra terra, e qual esta?
Respondo: tem Juiz Ordinario em todo a Civil, Crime, e Orfãos; tem Camera, e tudo esta sujeito à Correição do Ouvidor da Villa de Barcellos.
17
Se he Couto, Cabeça de Concelho, Honra ou Behetria?
Respondo: he Honra de Baltar da Serenessima Caza de Bragança.

Ao decimo oitavo, nada.

19
Se tem feira, e em que dias, e quantos dura, se he franca, ou Captiva?
Respondo: tem hua feira, que principiou ha tres anos; e se faz todos os mezes aos dezasseis; e no anno aos dezasseis de Abril, franca, três dias, por provizam de sua Magestade, que Deos guarde.
20
Se tem Correyo, e em que dias da semana chega, e parte, e se o não tem, de que Correyo se serve, e quanto dista a terra adonde elle chega?
Respondo: não tem Correyo e serve se do Correyo Mor da Cidade do Porto, que fica distante quatro léguas, e alguas vezes do da Villa de Arrifana de Souza, que dista duas léguas.
21
Quanto dista da Cidade Capital do Bispado, e quanto de Lisboa Capital do Reyno?
Respondo: dista quatro leguas da Cidade do Porto Capital do Bispado; e Cincoenta, e quatro de Lisboa Capital do Reyno.
22
Se tem alguns privilégios, antiguidades ou outras couzas dignas de memoria?
Respondo, que tem os pivilegios, de que gozam os reguengueiros da Serenissima Caza de Bragança.

Aos vinte, e três, vinte, e quatro, e vinte cinco, nada.

26
Se padeceu algua ruîna no Terramoto de mil, Sete Centos, Cincoenta, e Cinco, e em que, e se esta já reparada?
Respondo, que cahiram alguas paredes dos Campos, e hum palheiro, e tudo se acha reparado; o braço da cruz da Cappella Mor desta Igreja deu meya volta, e assim estâ para memoria.

Ao vinte, e sete nada.


O que se procura saber desta serra he o seguinte?
1
Como se chama?
Responde-se: a Serra de Baltar
2
Quantas leguas tem de comprimento, e quantas de largura; onde principîa, e onde acaba?
Responde-se, que tem de Comprimento meya legua, e de largura hum quarto de legua, principia do Nascente ao pe do Lugar de Ramos, e acaba no Poente no lugar do Gardam, freguesia de São Miguel de Gandra; e do Norte do Monte de São Silvestre, e acaba na parte do Sul junto ao lugar de Recarey, freguesia de São Pedro da Sobreyra, tudo deste Bispado.

Ao terceiro, quarto, e quinto, nada, e também o sexto.

7
Se há na Serra Minas de Metays ou Cantarias de pedras, ou de Outros materiaes de Estimação?
Respondo; que he hua pedreira aonde se tira pedra, ou môs para amolar.
8
De que plantas, ou hervas medicinaes hê a serra povoada, e se se cultiva em alguas partes della, e de que generos de frutos he mais abundante?
Responde-se: que tem alguns Carvalhos, Sobreyros, e  pinheiros nas fladras della, e tudo mais he Queiró; pode ser cultivada para trigo, e centeyo; porem os moradores não deixam topar huns aos outros por cauza de alguns querendo tudo.

Ao nono nada.

10
A qualidade do seu temperamento?
Respondo: que dizem he temperado.
11
Se ha nella Criações de Gados, ou de outros animaes, ou Cassa?
Respondo, que há alguns Rebanhos de Ovelhas, Cabras, e também boys e vaccas onde vão passar na queiró; e alguas lebres.

Ao decimo segundo, e decimo tercio, nada.

O que se procura saber do Rio dessa serra he o seguinte.
1
Como se chama assim o Rîo, como o sitio donde nasce?
Respondo: não ha Rio, mas sim hum Regato, que nasce na freguezia de Vandoma em hua lagôa, o qual rega a mayor parte das terras desta freguesia por repartições que tem, E nesta freguezia hâ quinze moînhos que moem com agua do dito regato no tempo do Inverno, e de Veram âs prezas dao: ha tambem hua ponte de pedra, chamada da pedra no lugar da ponte, por toda a margem deste regato se cultiva de pam com suas arvores e vides de Vinho Verde. Dou esta informação, e não respondo por artigos, porque nesta freguezia não ha rio algum, só sim o referido regato.
V. Excelencia Reverendissimo mandará, o que for servido. Baltar 8 de Abril de 1758
                                                           D A. Exª. Rma.
                                                           O menor súbdito
                                                      Agostinho José Ferrª.