Ao
longo do tempo foi sofrendo alterações e adaptações, tendo sido deixada outra
marca, na mesma porta, no ano de 1875 e acrescida de um monograma,
provavelmente aquando da transferência de propriedade, para um seu herdeiro,
MJCP, de Manoel Joaquim Coelho Pereira, 2º da hierarquia familiar.
Dupla inscrição e datação (anos de intervenção)
Ano de 1735 tamponado, antes e depois, pela letra A (ano). Superiormente a
simbologia muito popular, no séc. XVIII, de significado religioso INRI (Jesus
Nazareno Rei dos Judeus) e por isso a 3ª letra ter sido transformada em cruz
com base)
A
quinta era constituída pela casa rural e por terrenos
contíguos cuja agricultura produzida era abastecida por águas de consortes
cujos direitos advêm de pelo menos do ano de 1860. Está inscrita na
conservatória do registo predial com o seguinte descrição, como prédio misto: cerrado do casal da Pereira, composto por
casa de rés-do-chão e andar, com quintal, Campo da Porta de Cima e de Baixo,
Campo da Vinha, Lameiro da Boca, Vessada Grande e Lameiro do carreiro e Hortas,
conferindo uma área total aproximada de 3,3ha.
Registo da Conservatória (doc. antigo)
A
casa encontrava-se dividida por espaços próprios, sendo a uma cota superior
para a habitação e na área de rés-do-chão para cortes de animais e servidões. A
casa era típica rural, em forma de quadrado, rematada numa das suas partes por zona
de apoio a alfaias agrícolas e o seu vão do telhado para celeiro com
interligação a uma eira, em pedra.
A
quinta era constituída, para além de parte das águas de consortes, provenientes
do lugar dos Moinhos, em Vandoma, para abastecimento de todo o vale da
Gralheira e Sargeal a quintas similares, também por um poço e duas represas de
água que permitiam a garantia de abastecimento de água à casa e às demais das diversas
parcelas de terrenos, permitindo a produção de bens agrícolas tradicionais da
região, milho, feijão, batata, e produtos hortícolas, em função da época e período
sazonal a cada tipo de culturas. A vinha e árvores de frutos eram outras plantações
existentes pela quinta permitindo uma diversificação de produtos de forma a dar
as garantias de fruta para todo o ano.
Os direitos às águas de consortes destinavam-se
essencialmente a 6 quintas do vale da Gralheira, para além de outras pequenas parcelas e
distribuídas por períodos específicos. Era um direito que lhes provinha no
período do verão, entre o S. João (24/junho) e o S. Miguel (29/setembro).
A
casa, localiza-se nos limítrofes da
freguesia e distando do centro em cerca de 1 km, pela estrada nacional que liga
Vila Cova de Carros, ao centro de Baltar, conhecido pelo lugar da Feira, designação
pelo local do antigo comércio animal que se realizava naquele lugar, zona central
da actual vila.
Por
ser deslocalizada da área mais populacional terá, nos períodos de setecentos e
oitocentos, sido designado de lugar da Pereira mas que ao longo do tempo se
terá diluído e associado ao lugar da Gralheira devido à expansão das
construções daquele lugar. Actualmente, muitas das designações dos lugares em
Baltar desapareceram, tendo-se associado a outros mais representativos pela
concentração populacional, são os casos dos lugares da Preza, do Ourado de
Fagilde e Outeiro de Fagilde, da Lapa, do Cabo, do Espinheiro, da Fonte, da
Ponte, do Souto e que também como o da Pereira apenas ficaram registados nas
histórias da sua genealogia de família e obtida através dos registos escritos
do livros dos arquivos paroquiais ou por outros documentos dessa época.
É
conhecido que a estrada que ligava a Vila Cova de Carros e freguesias seguintes
até Paços de Ferreira foi-se transformando e ajustada ao longo do tempo, tendo sido
um caminho sinuoso, desabrigado e em grande parte de todo o seu percurso, num
ermo continuo até à terra mais próxima. Este antigo caminho, actualmente
designada de estrada EN 319, terá sido um percurso lamacento, devido às
passagens de água referidas, traçado tortuoso, pelos desníveis existentes e
perigosos, sujeito a assaltos frequentes para o tipo de condições que se
proporcionava.
Antiga estrada de ligação a Vila Cova de Carros e entretanto deslocada para um alinhamento novo
Esta
transição, de caminho para estrada, no séc. XX, terá sido alterada no acesso em
frente à quinta sendo deslocalizada mais uns metros a poente, contornando a mesma
propriedade, tendo alterado a sua função de estrada, que passava pela sua
frente, em apenas num caminho de acesso privado a três casas que serve.
Esta
alteração modificou a paisagem frontal da casa da Pereira, quer na leitura
visual por se ter transformado num baixo, quer no seu acesso por ser estreito
se tornar numa passagem interior e particular
pelas suas características das actuais circunstâncias de seu acesso.
A
casa, embora com dimensões aparentemente grandes, não apresenta uma
distribuição natural e coerente para uma habitação tradicional. Contempla áreas
pequenas, desorganizada e seccionadas por portas que dão acesso a outros
compartimentos contíguos sem qualquer conforto e acomodação que se possa
considerar uma habitação normal. Pela sua antiguidade pode-se entender que os
compartimentos não eram de uso durante o dia e percebia-se que serviam de
dormitório às várias gerações que por lá viveram. O conceito de arquitectura ainda
não existia e a distribuição da casa fazia-se em função das suas necessidades.
Já
os restantes espaços de servidão e de utilização se encontravam bem definidos,
quer para o apoio animal quer para a componente agrícola e distribuídos em
redor do rés-do-chão desta casa.
A Família
As
origens desta família serão mais ancestrais e provenientes da própria freguesia
de Baltar, como de outras do próprio concelho, de Mouriz, de Vila Cova de
Carros, da Sobreira e de Astromil e ainda do concelho vizinho de Valongo, das
terras de Sobrado e S. Martinho de Campo, freguesias vizinhas também de
características essencialmente rurais, e que por laços de casamento se terão
instalado neste antigo lugar, da "Pereira", actualmente absorvido
pelo lugar da Gralheira.
Família
de traços humildes, influenciada pela lavoura e cujo cultivo das suas próprias
terras se destinava exclusivamente ao consumo privado, como era tradição e
frequente naqueles tempos.
As
suas raízes rurais e o elevado número de filhos tidos pelo casal Manoel e
Thomázia, fizeram deste par o despoletar de uma geração de emigrantes, de
homens de negócios e de casamentos com outras famílias de importância local,
subindo degraus na hierarquia social da terra.
Manoel Coelho Pereira (n - 15/3/1795 / f -
19-8-1877
Maria Thomásia Coelho Barbosa (n - 3-2-1812 / f
- 26-12-1903)
De ambos, pouco
se conhece as suas origens, a sua vida diária e seus caracteres, mas pela aparência
das fotos tudo aponta que Manoel, por ter sido lavrador, terá levado uma vida
desgastada levada pela agricultura, através do trabalho diário para
subsistência familiar.
Seus Pais e Avós, originários
de Baltar, mais precisamente do lugar de Fagilde, área central da vila, sendo
que os seus antepassados da 3ª e restantes gerações já tiveram a sua origem pelas
terras vizinhas, Mouriz, Sobreira. Astromil, Sobrado e S. Martinho de Campo, e
de outras das redondezas que o tempo não consegue vislumbrar.
Antepassados de Manoel Coelho Pereira
Antepassados de Maria Thomásia Coelho Barbosa
Os seus progenitores
tiveram a sua proveniência em Baltar e de terras vizinhas, Mouriz e Vila Cova
de Carros, Vandoma, sendo contudo os seus ancestrais mais antigos originários ainda
de lugares mais diversificados, provenientes de outras freguesias das redondezas,
tais como Gandra, Cristelo, etc...
Do seu
casamento, previsivelmente no ano de 1831, nesta casa viu nascer 14 filhos,
tendo falecido cinco filhos, sendo a 5ª e ultima filha, no ano de 1855, sendo que de todos os
restantes 9 filhos, rapazes, alguns terão emigrado para o Brasil em tenra
idade, como era usual naqueles tempos.
Os que foram
partiram moços com 13 ou mais idade, ainda jovens, sujeitos à isenção do
exercicio obrigatório da tropa e em busca do sonho e da esperança de enriquecimento,
num país que à época se considerava o eldorado, localizado no outro lado do
Altântico - o Brasil.
A Descendência
Manoel Coelho Pereira ∞Maria Thomásia Coelho Barbosa
• António Joaquim Coelho Pereira (n -
1832 / f - 1913)
• Manoel Joaquim Coelho Pereira (n -
1836 / f - 1914)
• António Coelho Pereira (n - 1838 / f
- ?)
• Belmiro Coelho Pereira (n - 1839 / f
- 1911)
• José António Coelho Pereira (n - 1840
/ f - 1910)
• Lino Coelho Pereira (n - 1843 / f -
1891)
• Firmino Coelho Pereira (n - 1843 / f
- 1916)
• Maria Rita Coelho Pereira (n - 1844 /
f - 1931)
• Anna Maria Coelho Pereira (n - 1847 /
f - 1910)
• Margarida Rita Coelho Pereira (n -
1848 / f - ?)
• David Coelho Pereira (n - 1849 / f -
1920)
• Victorino Coelho Pereira (n - 1851 /
f - 1922)
• Cecília Coelho Pereira (n - 1852 / f
- 1945 )
• Emília da
Concepção Coelho Pereira (n - 1854 / f - 1855)
Retrato de família (ao centro os pais e em redor os filhos, faltando o mais velho)
Desta família resultou que três filhos, Firmino, Belmiro e Victorino, e tendo enriquecido no Brasil regressaram ainda jovens adultos com as posses necessárias para serem proprietários das 3 casas brasileiras, em Baltar.
Destas 3 casas, apenas uma resiste encontrando-se em bom estado, pertenceu a Victorino Coelho Pereira, que comprou a seu irmão Lino que a terá mandado edificar.
A que se encontra em frente a esta, actualmente abandonada foi escola secundária e foi entregue recentemente pela autarquia à Santa Casa da Misericórdia de Paredes, com a finalidade da construção de um Lar de Idosos (infelizmente já se torna impossível o restauro da casa) tendo pertencido a Belmiro Coelho Pereira.
E a terceira casa, pertenceu a Firmino Coelho Pereira e foi no final da década passada demolida inexplicavelmente para proveito próprio do proprietário na reconstrução de uma moradia unifamiliar, não tendo qualquer respeito pelo valor patrimonial e histórico dessa casa. Um crime que nem a junta de freguesia, a autarquia, nem o estado tomou qualquer posição sobre tal feito. Assim se perdeu, talvez a melhor casa da freguesia, pelo valor do seu recheio interior, na decoração, nas pinturas, da arquitectura, e de toda a sua envolvente histórica.
Enfim, assim se conta uns pequenos traços de vidas de uma família...