António Lourenço Corrêa (1828-1879),
Quinta de Chão Verde, Venda Nova - Rio Tinto
Pintura em tela
Fotografia em quadro
Os
Torna-Viagens:
Após
a consequência da Revolução Liberal, da transferência da corte portuguesa para
o Brasil e da independência do Brasil (1821-1825), permitiu que durante mais de
um século, o Brasil e o continente americano se tornassem o destino de uma
corrente migratória que se alimentava como o sonho de Eldorado que fascinou
muitos milhares de portugueses.
Naquela
época houveram quem regressasse à terra mãe e muitos terão por lá ficado, tendo
formado família, ora ficado ricos, ora pobres, ou ainda remediados e que em
regra estes últimos não regressaram por desgosto ou vergonha e até
impossibilitados de o fazerem.
Os
ricos e afamados permitiu-lhes alimentar o desejo de regresso e demonstrar aos
da sua terra, no concelho e ao País que conseguiram alcançar o objectivo da
“fortuna” e criado a riqueza desejada que lhes permitissem viver desafogados em
Portugal sem quaisquer constrangimentos para o resto das suas vidas.
As
suas fortunas em regra eram tão grandes que muitos se tornavam beneméritos com
as ofertas de bens financeiros, de obras ou de outras intervenções pessoais que
lhes permitiam serem reconhecidos publicamente e por vezes notabilizados com
mercês reais e as consequentes pedras de armas pessoais.
Estas
distinções tornavam-se tão banalizadas que muita imprensa e escritores da
época, incluindo Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis e Almeida Garrett, usaram
de comentários jocosos e irónicos, nas suas escritas diárias e de pequenos
ditos e versos que ficavam na mente das pessoas e serviam de armas de arremesso
a estes ilustres benfeitores, tais como:
“Foge cão, que te fazem Barão!
P’ra onde? Se me fazem
Visconde.”
ou ainda,
“Quem furta é ladrão,
Quem furta muito é Barão,
Quem mais furta e esconde
Passa de Varão a Visconde.”
ou ainda,
"O brasileiro ou rebenta
por lá
e ninguém fala ou
vem rebentar à terra
e é "bisconde".
A
família:
No
caso da presente da casa “Brasileira”, foi seu proprietário António Lourenço
Correia,mais um brasileiro Torna-Viagem que no séc. XIX emigrou para o Brasil
com a ambição e ilusão da riqueza que aquele país alimentava.
As
raízes genealógicas tiveram em Manuel Alves Corrêa e Quitéria Martins Vieira,
nos seus bisavós e proprietários, no lugar de Tardinhade, em Salvador de Fânzeres,
onde viviam numa casa típica de lavrador solidamente abastado do século XVIII cujo
casamento está datado de 9 de fevereiro de 1796.
Seu
bisavô era filho de João Alves e de Maria Ferreira de Jesus, do mesmo lugar, e
neto paterno de Domingos Alves e de Maria João e materno de Manuel Ferreira e
de Maria Martins.
Sua
Avó era filha de Alexandre Martins e Apolónia Vieira, do lugar de Montezelo,
sendo neta paterna de João Teixeira e de Maria Antónia e materna de João Miguel
e de Lourença Vieira.
Seus
avós tiveram 10 filhos todos eles nascidos nesta casa, no lugar de Tardinhade e
que foram:
Manuel
Alves Corrêa, nascido a 27 de maio de 1796, esteve no brasil mas morreu em
Portugal (1853?), solteiro e sem geração;
Maria
Martins Vieira ou, também conhecida como Maria Martins Corrêa Lâmpada, nascida
a 27 de outubro de 1797 e casou com João Afonso Vieira. Não terão deixado
descendência.
Ana
Martins Vieira, nascida a 12 de julho de 1799 e faleceu a 18 de setembro de
1876. Casou com José Lourenço, no lugar do Outeiro, a 10 de maio de 1827 e faleceu
a 2 de fevereiro de 1853 e sepultado na igreja de Fânzeres. Este era filho de
Manuel Lourenço e de Maria Pereira, neto paterno de Manuel Lourenço e de Ana
Maria e materno de Manuel Pereira e de Ana dos Santos. Deste casamento nasceram
três filhos, António Lourenço Corrêa (a personagem abordada), Bernardino
Lourenço Corrêa, nasceu em 1830 e faleceu no Rio Grande do Sul, a 22 de
setembro de 1862 e Maria Martins Vieira (sem informação).
Catarina
Martins Vieira, nascida a 6 de julho de 1801;
António
Alves Corrêa, nascido a 23 de novembro de 1802;
Angelina
Martins Vieira, nascida a 1 de abril de 1804;
José
Alves Corrêa, nascido a 8 de maio de 1805 e falecido a 8 de dezembro de 1853,
solteiro e sem geração, tendo deixado 98% da sua fortuna pessoal à Misericórdia
do Rio de Janeiro e os restantes 2 % ao seu sobrinho António Lourenço Corrêa,
fazendo dele um homem exageradamente rico, como se abordará no restante texto
deste blogue.
Francisco
Alces Corrêa, nascido a 5 de março de 1807 e faleceu sem geração;
Gertrudes
Alves Corrêa (sem informação);
João
Alves Corrêa, nascido a 20 de agosto de 1810, morava na casa da Rua do Poço das
Patas, no Porto com sua esposa Ana Teresa do Nascimento, mas também terá
passado pelo Brasil conforme correspondência existente.
Registo Paroquial - nascimento
A
pessoa:
António
Lourenço Corrêa terá nascido no lugar do Outeiro, em Fânzeres, a 31 de março de
1828, em casa de seus pais, terá emigrado para o Brasil com os mesmos fins de
seus tios e irmão e por lá ficou até aos seus 35 anos de idade, cuja riqueza
conseguiu rapidamente reunir, para além da fortuna herdada de seu tio José.
Na
sua carteira profissional está referenciado como capitalista, designação muito
frequente naquela época.
Da
sua correspondência com o Marquês de Abrantes, D. José Maria de Lancastre e
Távora, estava documentado que negociava com escravos embora não se dedicasse
exclusivamente a esse negócio, mas viver entre o Brasil e Portugal, com certeza
que o negócio de escravos era uma despesa necessária quer na compra quer na
venda.
Já
em Portugal, esta figura era intitulado de Arara ou o tio Lâmpada, descrito na
obra de “ A Corja”, de Camilo Castelo Branco, devido ao seu aspecto excêntrico
no vestir do dia-a-dia e na transposição para a realidade dos seus projectos coloridos
e exagerados.
Com
certeza que estes comentários foram sobejamente referenciados no quotidiano,
comentários públicos e privados e pelos jornais da época, pela sua forma
excêntrica e exuberante do seu dia-a-dia.
Em
carta a Félix Lascasas dos Santos, Visconde de Lascasas, seu amigo, datada de 9
de março de 1857, comenta estas descrições da seguinte maneira: “Amigo. Principio por dizer alguma coisa a
respeito do meu sistema de trajar; que não tem nada de novo ao meu costume daí,
por isso o que aqui reparam e alguma coisa dizem, para mim não é novidade,
porque já de lá vinha habituado aos tocadores de rebeca; e então pouco se me dá
disso, porque embora tenha o costume de andar com vestuário de cores claras ou
de qualquer feitio ou moda ao meu gosto, eu creio que com isso não ofendia
pessoa alguma, nem a moral pública, nem tão pouco julgo que um tal vício (se
merece tal nome) possa desmerecer o meu conceito aos olhos da sociedade em
geral ou dos meus amigos em particular, a uma visita a uma repartição de etiqueta,
etc.
Como acima digo,
pouco me importa o que dizem a este respeito, porque com ufania o digo, se
algum procedimento tenho repreensível, será esse o único, ao passo que esses
miseráveis que se julgam com direito de ser a palmatória do mundo têm na sua
crónica páginas mais negras que uma noite de Londres no tempo de Inverno; por
isso, meu amigo, se se fosse tomar a peito todos os ditos do mundo, não
teríamos uma hora de satisfação na nossa vida, por mais longa que ela se
tornasse. Repito, o que dizem a esse respeito, pouco ou nada me incomoda.”
Camilo Castelo Branco ironiza-o, na sua obra, de 1880, da seguinte maneira: "Cavalos relinchavam, fazendo no macadame sonoro, com as patas, uma toada com um ritmo pomposo. Chegava a caleche descoberta dum brasileiro purpurino coruscante, de cores arreliosas, oftálmico, delirantes, duma garridice espaventosa. Era o Arara, um triunfador daqueles tempos em que a casaca azul e o colete amarelo não dispensavam uma gravata vermelha, luvas e calças còr de alecrim com polainas cinzentas. O Arara, a quem outros chamam o Lâmpada, (...) muito refastelado nos coxins côr de gema de ovo com franja azul (...)."
O seu regresso a Portugal, estima-se em finais de 1863 e princípios de 1864, com 35 anos de idade, fê-lo voltar às suas origens, a Gondomar, adquirindo uma parcela de terreno e iniciado a construção de sua casa, na “aldeia” na Venda Nova, em Rio Tinto e próximo de Fânzeres, sua terra natal.
O seu regresso a Portugal, estima-se em finais de 1863 e princípios de 1864, com 35 anos de idade, fê-lo voltar às suas origens, a Gondomar, adquirindo uma parcela de terreno e iniciado a construção de sua casa, na “aldeia” na Venda Nova, em Rio Tinto e próximo de Fânzeres, sua terra natal.
Fachada da Casa
Limites da Quinta
Vista actual do Google Maps
Construiu
esta habitação, designada de “Chão Verde”, com uma traça típica das construções
da época e com os seus interiores tipicamente “brasileiro”. O seu exterior é
extremamente e exageradamente exótico pelos seus jardins, fontes e elementos
decorativos utilizados e aplicações de azulejaria e carrancas nas paredes da
cavalariça e nos muros contornais da quinta.
Relata
em carta, datada de 10 de novembro de 1864, a seu tio João Alves Corrêa, no
Brasil, onde descreve: “ (…) Não sei se
meu tio já saberá que tenho casa de moradia na cidade e na aldeia. Na cidade,
na Rua do Bonfim, 53 e na aldeia na freguesia de Rio Tinto, lugar de Chão
verde. É nesta ultima onde vivo mais tempo, porque lá tenho gasto bastante
dinheiro, mas é sem dúvida uma das residências mais bonitas dos arrabaldes do
porto, pela posição e recreios de que se acha adornada. Na qual tenho muito
gosto e muita fé de que ali se vive mais. Está na minha companhia minha boa mãe.
A quem compete fazer as honras de Dona de casa, porque eu a tal respeito estou
como estava – livre como livre nasci.”
Na
sua casa do Porto, o nº. 53, ficava junto ao atual Campo 24 de agosto, no início
da rua do Bonfim, usufruía ainda os n.ºs 17 e 18 que tinha uma “ (…) caza
servindo de cocheira (…) “.
Registo Paroquial - Óbito (8/Nov/1879)
Faleceu
na sua casa de Chão Verde, no dia 8 de novembro de 1879, conforme referenciado
em documento dos registos paroquiais da freguesia.
Contudo
é publicamente divulgado a data de sua morte, o dia 31 de outubro de 1879, e
comprovada no cemitério do Prado do Repouso, no jazigo cemiterial de seu tio e
onde se encontra também enterrado, causando estranheza a diferença dos 8 dias
entre as datas registadas.
Inscrição no Jazigo (31/ Out. / 1879)
Seu jazigo localiza-se na ala principal do cemitério, quem desce, pela entrada norte, à esquerda e está edificada com um singular e original caixão sobreelevada, com uma colcha por cima, em pedra branca e porosa, com frutos e inscrições.
Vistas do Jazigo
O
Comércio do Porto noticiou o seu falecimento do " abastado e conhecido
capitalista, que por muitos anos havia residido no Brasil, onde exercera a
profissão comercial."
Terminava
a sua vida com 51 anos de idade, morrendo solteiro e sem filhos, não deixando qualquer
testamento.
Seu
herdeiro directo foi seu sobrinho, filho de sua irmã Maria Martins Vieira, David
Carreira da Silva, que herdou a propriedade à sua morte.
À
sua morte, sua filha Rita Correia de Sá foi a herdeira desta casa, tendo casado
no ano de 1915 com Domingos Gonçalves de Sá Júnior, natural do Porto e que por
sua vez tiveram um filho, Domingos Correia Gonçalves de Sá tendo-se
popularizado nesta terra, como presidente da Junta, eleito em quatro mandatos
seguidos de 1951 a 1967.
Casou com Elisa Gomes Mesquita da Cunha e tiveram 5 filhos, actualmente ainda vivos, Rita, José Pedro, João e Miguel, cujo contributo de muita desta informação foi cedida por estes herdeiros naturais.
Casou com Elisa Gomes Mesquita da Cunha e tiveram 5 filhos, actualmente ainda vivos, Rita, José Pedro, João e Miguel, cujo contributo de muita desta informação foi cedida por estes herdeiros naturais.
Textos e informações retiradas de:
https://umolharsobreriotinto.wordpress.com
http://aert3.pt/umaescolaumavida/html/quinta_chaoverde.htm
http://portojofotos.blogspot.pt
http://www.queirozportela.com/conferencia.htm
http://umafamiliadoporto.blogspot.pt