NOTA: A quem consulte e aprecie este blogue e possa contribuir com comentários, críticas ou correcções têm a minha consideração.
Aqueles que por seu entendimento, possam ser proprietários de alguns elementos fotográficos, e pretendam a retirada dessa foto, agradeço que me seja comunicada para evitar constrangimentos pessoais.

Obrigado.

17 de maio de 2020

Victorino Coelho Pereira


Victorino Coelho Pereira, Torna-Viagem de Baltar
Manuel Cunha, Eng. Civil
Palavra-chave: Coelho Pereira; Torna-viagem; Baltar

A designação toponímica assume particular importância na preservação da memória e identidade de um povo. Permite perpetuar nomes, factos e eventos, dando a conhecer a evolução histórica dos lugares e respetivas populações, para além de facilitar a localização geográfica. Essa designação, por vezes, advêm dos nomes de famílias locais.
No presente caso, o lugar da “Pereira”, em Baltar, teve esse pressuposto. Com o passar do tempo, este lugar foi absorvido pelo lugar da Gralheira.
No séc. XVIII, a existência deste lugar provinha da família que lá residia, a família “Pereira”. Por herança, a casa-mãe terá ficado para o filho mais velho, Manoel Coelho Pereira, que casou (já em idade tardia) com Maria Thomázia (17 anos mais nova). Desta união, nasceram 14 filhos, sobrevivendo 13 deles. Todos nasceram nesta casa centenária. A data da mesma encontra-se inscrita  na porta de entrada - 1735, a qual, provavelmente, se refere à data de ampliação e/ou restauro. Os antepassados de Manuel Coelho Pereira terão nascido nesta casa anteriormente a esta data.
Sobre este apelido e sobre um dos filhos desta família, Victorino Coelho Pereira, se fará uma breve abordagem da sua marca na terra de Baltar e do seu período de emigração pelo Brasil.
A mãe, Maria Thomázia Coelho Barbosa, com a sua diferença de idade em relação ao pai e com maior energia e jovialidade, terá dado um forte impulso na educação dos filhos. Os rapazes foram para a cidade do Porto como aprendizes em lojas comerciais. Este contato com a cidade deu a Maria Thomázia a visão de que estaria ali o futuro dos seus rapazes (ainda de tenra idade) e, mais tarde, encorajou-os a emigrarem para o “eldorado” brasileiro - prática e destino corrente da época. 

A descendência de Manoel Coelho Pereira e Maria Thomásia Coelho Barbosa reflete-se no intervalo de tempo entre o 1º nascimento e o ultimo irmão vivo, cerca de 20 anos entre si e que resultaram nos 13 filhos sobrevivos:
          António Joaquim Coelho Pereira (n - 1832 / f - 1913)
          Manoel Joaquim Coelho Pereira (n - 1836 / f - 1914)
          António Coelho Pereira (n - 1838 / f - ?)
          Belmiro Coelho Pereira (n - 1839 / f - 1911)
          José António Coelho Pereira (n - 1840 / f - 1909)
          Lino Coelho Pereira (n - 1842 / f - 1891)
          Firmino Coelho Pereira (n - 1843 / f - 1916)
          Maria Rita Coelho Pereira (n - 1844 / f - 1931)
          Anna Maria Coelho Pereira (n - 1847 / f - 1910)
          Margarida Rita Coelho Pereira (n - 1848 / f - ?)
          David Coelho Pereira (n - 1849 / f - 1920)
          Victorino Coelho Pereira (n - 1851 / f - 1922)
          Cecília dos Santos Coelho Pereira (n - 1852 / f - 1941)
          Emília da Concepção Coelho Pereira (n - 1854 / f – 1855)
Dos 9 rapazes desta família, pelo menos 5 emigraram para o Brasil. Ainda existe muita informação obscura e desconhecida, que não permite retirar conclusões de todo o processo das suas vidas pessoais. As informações apenas são conhecidas pelo espólio documental do irmão mais novo, Victorino, e por outros documentos dispersos. 

Victorino nasceu a 29/1/1851 e manteve-se solteiro até à sua morte a 3/2/1922. Foi o último dos filhos - com 13 anos - a emigrar para junto de seus irmãos mais velhos.
Iniciou-se como “marçano” na loja de seu irmão Manoel Joaquim, no Porto. Com a ida para o Brasil, terá continuado a ser aprendiz, até se inserir na sociedade de seus irmãos, Belmiro e Firmino, a qual tinha como sócio Valentim, sendo designada originalmente de “Pereira & Valentim e Cª.”.
Esta empresa, ao longo do tempo, serviu de entreposto com entradas e saídas de novos sócios, cujas quotas vendiam aos familiares, então chegados de Portugal. A sua designação alterava-se em função dos seus apelidos, como se comprova pela imagem apresentada de “Pereira, Fernandes e Cª. – Comércio de Fazendas e Roupas por Atacado”. 

A empresa estava localizada num prédio de 12 entradas, no gaveto da rua do Mercado e a do Ouvidor, no centro das maiores artérias da época do Rio de Janeiro.
Victorino, em poucos anos, terá criado uma fortuna de grande dimensão. Cedo entendeu regressar a Portugal - 44 anos de idade. O legado patrimonial manteve -se aquando do seu regresso a Baltar, local escolhido para a sua residência. 

Em 1895, regressou em definitivo com uma enorme fortuna. Tinha previsto regressar antes, mas tinha negócios que se encontravam por concluir.

Após a sua chegada, fez um passeio pela Europa e findo o mesmo remeteu-se à sua casa, em Baltar, que tinha comprado à sua sobrinha, filha de Lino, entretanto falecido.
Esta casa situa-se à face da estrada principal, em frente a outras duas casas dos seus irmãos, Belmiro e Firmino (uma encontra-se degradada e outra foi demolida).
No Verão, Vitorino passava alguns dias nas termas do Gerês ou de São Vicente, em Entre-os-Rios. Para esta última acompanhavam-no algumas sobrinhas e uns primos órfãos de um familiar falecido no Brasil, Por variadas vezes, apareciam-lhe outros familiares para pedidos de favores pessoais, como era frequente este tipo de pedidos desde que se estabeleceu em Baltar. 
Em regra cedia a essas solicitações, devido à sua bondade e boa vontade, qualidades reconhecidas por todos.
A sua vivência em Baltar, permitiu-lhe manter-se próximo de seus pais e irmãs e estar em contato permanente com seus irmãos e sobrinhos mais distantes, através de correspondência continua quer para o Porto quer para o Brasil.
Na sua casa, tinha permanentemente a presença de familiares. Como companhia assídua e permanente tinha a filha da sua irmã mais nova, de nome Rosário, uma das sobrinhas, de quem era padrinho.
Mesmo perante ela, tinha uma atitude de vigor e firmeza nas suas ações diárias, no sentido de manter uma educação austera, que se impunha naquela época.
O seu rigor e minúcia, permitiu-lhe manter todos os seus negócios no Brasil. Estes foram controlados à distância através de troca de correspondência muito cuidadosa e elaborada, e guardada, religiosamente, conforme se comprova pela documentação.
Tudo fez para proteger a sua família e satisfazer a maior parte dos pedidos de ajuda que lhe eram permanentemente solicitados. Mas, devido à sua personalidade integra e muito própria, nem sempre acedia aos apelos que lhe eram feitos. Merece realce o grande pormenor e rigor na organização dos registos de  todos os empréstimos e respetivos pagamentos.
Como prova da dimensão dos seus bens, em Baltar, tinha permanentemente ao seu serviço um conjunto de pessoas: pedreiros, carpinteiros e trabalhadores agrícolas, que comiam diariamente na grande cozinha de sua casa.
Aquando da sua morte e, por ser solteiro, os seus bens contemplavam uma tão vasta quantidade de património, não só em Portugal como no Brasil, bem como em papel financeiro. A sua herança gerou um conflito entre duas fações de familiares, cujos trâmites em tribunal perduraram cerca de 20 anos e ficou conhecida, na época, - “Questão de Baltar”.
A guerra jurídica prevaleceu para o lado dos familiares herdeiros no testamento, em prejuízo dos familiares que nada herdavam e que entendiam ter o mesmo direito. Esta “Questão” só terminou em decisão na última instância, no Supremo.
Do seu testamento resultou que, a sua fortuna seria distribuída por mais de 120 pessoas e instituições. Resumidamente, pode-se mencionar as seguintes instituições listadas:
- na cidade do Rio de Janeiro: a Sociedade Portuguesa de Beneficência, a Ordem Terceira de S. Francisco, o Gabinete Português de Leitura e a Caixa de Socorro D. Pedro V;
- em Portugal, a Creche da Santa Marinha, em V. N. Gaia e no Porto: Santa Casa da Misericórdia, Asilo da Ordem do Terço, Asilo de S. João, Asilo das Velhinhas e Asilo dos Velhinhos, Asilo Barão Nova Sintra, Irmãzinhas Pobres, Oficina de S. José, Creche do Comércio do Porto, Creche da Infância Desvalida, Pobres Protegidos do Comércio do Porto, Casa de Caridade dos Surdos-Mudos, Presos da Cadeia da Relação do Porto; e no concelho, onde nasceu: Santa Casa da Misericórdia, Associação de Socorros Mútuos, Associação dos Bombeiros Voluntários e Presos da Cadeia de Paredes.
Todos os restantes bens foram primorosamente distribuídos pelos seus familiares e empregados pessoais, assim como, teve o cuidado em não desfazer quintas e parcelas, que mais se adequavam entre si a fim de evitar o fracionamento desses bens.
De todos os irmãos, Victorino, terá sido o maior impulsionador e apaixonado pela sua terra natal, ao deixar a distribuição futura dos seus bens de forma ponderada e criteriosa.
A generosidade e a correção das suas ideias eram evidentes, quer pela forma como era reconhecido por todos quer pela retidão das suas decisões.
Desta família seguiram os passos da emigração muitos outros sobrinhos, que se serviram da empresa inicial, Pereira e Valentim, para prosseguirem o caminho do enriquecimento.
Dos 5 filhos emigrantes de Manoel Coelho Pereira e Maria Thomásia Coelho Barbosa, 3 deles deixaram as marcas na sua terra natal através de terrenos agrícolas, montados, quintas e fundamentalmente das suas casas chamadas “brasileiras”, que marcam atualmente a Vila de Baltar.
Victorino, talvez, por ter vivido parte da sua vida em Baltar, foi o que teve mais cuidado na preservação dos seus bens, nomeadamente da sua casa, deixando a familiares de maior estima e consideração, conforme mencionado no seu testamento. 

Muita mais informação poderá ser divulgada pela muita documentação de Victorino, compilada em arquivo de sua casa e cujos atuais familiares a preservam.
Haja intenção futura na sua divulgação!

(artigo da Revista Orpheu nº. 2, Câmara Municipal de Paredes)

2 comentários:

  1. Olá poderia me ajudar confirmando se essa família teria conexão com José Victorino Coelho?

    ResponderEliminar
  2. Caro Sr(a), não. O nome que questiona não pertence à família. Existe esse nome nos registos paroquiais mas não têm qualquer relação direta com a família de Victorino Coelho Pereira.

    ResponderEliminar