Victorino
Coelho Pereira, Torna-Viagem de Baltar
Manuel
Cunha, Eng. Civil
Palavra-chave: Coelho
Pereira; Torna-viagem; Baltar
A designação toponímica assume
particular importância na preservação da memória e identidade de um povo. Permite
perpetuar nomes, factos e eventos, dando a conhecer a evolução histórica dos
lugares e respetivas populações, para além de facilitar a localização
geográfica. Essa designação, por vezes, advêm dos nomes de famílias locais.
No presente caso, o lugar da “Pereira”,
em Baltar, teve esse pressuposto. Com o passar do tempo, este lugar foi absorvido
pelo lugar da Gralheira.
No séc. XVIII, a existência deste
lugar provinha da família que lá residia, a família “Pereira”. Por herança, a
casa-mãe terá ficado para o filho mais velho, Manoel Coelho Pereira, que casou (já
em idade tardia) com Maria Thomázia (17 anos mais nova). Desta união, nasceram 14
filhos, sobrevivendo 13 deles. Todos nasceram nesta casa centenária. A data da
mesma encontra-se inscrita na porta de
entrada - 1735, a qual, provavelmente, se refere à data de ampliação e/ou
restauro. Os antepassados de Manuel Coelho Pereira terão nascido nesta casa
anteriormente a esta data.
Sobre este apelido e sobre um dos
filhos desta família, Victorino Coelho Pereira, se fará uma breve abordagem da
sua marca na terra de Baltar e do seu período de emigração pelo Brasil.
A mãe, Maria Thomázia Coelho
Barbosa, com a sua diferença de idade em relação ao pai e com maior energia e
jovialidade, terá dado um forte impulso na educação dos filhos. Os rapazes foram
para a cidade do Porto como aprendizes em lojas comerciais. Este contato com a
cidade deu a Maria Thomázia a visão de que estaria ali o futuro dos seus
rapazes (ainda de tenra idade) e, mais tarde, encorajou-os a emigrarem para o
“eldorado” brasileiro - prática e destino corrente da época.
A descendência de Manoel Coelho
Pereira e Maria Thomásia Coelho Barbosa reflete-se no intervalo de tempo entre
o 1º nascimento e o ultimo irmão vivo, cerca de 20 anos entre si e que resultaram
nos 13 filhos sobrevivos:
• António Joaquim Coelho Pereira (n -
1832 / f - 1913)
• Manoel Joaquim Coelho Pereira (n -
1836 / f - 1914)
• António Coelho Pereira (n - 1838 / f -
?)
• Belmiro Coelho Pereira (n - 1839 / f -
1911)
• José António Coelho Pereira (n - 1840
/ f - 1909)
• Lino Coelho Pereira (n - 1842 / f -
1891)
• Firmino Coelho Pereira (n - 1843 / f -
1916)
• Maria Rita Coelho Pereira (n - 1844 /
f - 1931)
• Anna Maria Coelho Pereira (n - 1847 /
f - 1910)
• Margarida Rita Coelho Pereira (n - 1848
/ f - ?)
• David Coelho Pereira (n - 1849 / f -
1920)
• Victorino Coelho Pereira (n - 1851 / f
- 1922)
• Cecília dos Santos Coelho Pereira (n -
1852 / f - 1941)
• Emília da Concepção Coelho Pereira (n
- 1854 / f – 1855)
Dos
9 rapazes desta família, pelo menos 5 emigraram para o Brasil. Ainda existe muita
informação obscura e desconhecida, que não permite retirar conclusões de todo o
processo das suas vidas pessoais. As informações apenas são conhecidas pelo
espólio documental do irmão mais novo, Victorino, e por outros documentos dispersos.
Victorino
nasceu a 29/1/1851 e manteve-se solteiro até à sua morte a 3/2/1922. Foi o último
dos filhos - com 13 anos - a emigrar para junto de seus irmãos mais velhos.
Iniciou-se
como “marçano” na loja de seu irmão Manoel Joaquim, no Porto. Com a ida para o
Brasil, terá continuado a ser aprendiz, até se inserir na sociedade de seus
irmãos, Belmiro e Firmino, a qual tinha como sócio Valentim, sendo designada
originalmente de “Pereira & Valentim e Cª.”.
Esta
empresa, ao longo do tempo, serviu de entreposto com entradas e saídas de novos
sócios, cujas quotas vendiam aos familiares, então chegados de Portugal. A sua
designação alterava-se em função dos seus apelidos, como se comprova pela
imagem apresentada de “Pereira, Fernandes e Cª. – Comércio de Fazendas e Roupas
por Atacado”.
A
empresa estava localizada num prédio de 12 entradas, no gaveto da rua do
Mercado e a do Ouvidor, no centro das maiores artérias da época do Rio de
Janeiro.
Victorino,
em poucos anos, terá criado uma fortuna de grande dimensão. Cedo entendeu
regressar a Portugal - 44 anos de idade. O legado patrimonial manteve -se aquando
do seu regresso a Baltar, local escolhido para a sua residência.
Em
1895, regressou em definitivo com uma enorme fortuna. Tinha previsto regressar
antes, mas tinha negócios que se encontravam por concluir.
Após
a sua chegada, fez um passeio pela Europa e findo o mesmo remeteu-se à sua
casa, em Baltar, que tinha comprado à sua sobrinha, filha de Lino, entretanto
falecido.
Esta
casa situa-se à face da estrada principal, em frente a outras duas casas dos
seus irmãos, Belmiro e Firmino (uma encontra-se degradada e outra foi demolida).
No
Verão, Vitorino passava alguns dias nas termas do Gerês ou de São Vicente, em
Entre-os-Rios. Para esta última acompanhavam-no algumas sobrinhas e uns primos
órfãos de um familiar falecido no Brasil, Por variadas vezes, apareciam-lhe
outros familiares para pedidos de favores pessoais, como era frequente este tipo
de pedidos desde que se estabeleceu em Baltar.
Em
regra cedia a essas solicitações, devido à sua bondade e boa vontade, qualidades
reconhecidas por todos.
A
sua vivência em Baltar, permitiu-lhe manter-se próximo de seus pais e irmãs e
estar em contato permanente com seus irmãos e sobrinhos mais distantes, através
de correspondência continua quer para o Porto quer para o Brasil.
Na
sua casa, tinha permanentemente a presença de familiares. Como companhia
assídua e permanente tinha a filha da sua irmã mais nova, de nome Rosário, uma
das sobrinhas, de quem era padrinho.
Mesmo
perante ela, tinha uma atitude de vigor e firmeza nas suas ações diárias, no
sentido de manter uma educação austera, que se impunha naquela época.
O
seu rigor e minúcia, permitiu-lhe manter todos os seus negócios no Brasil.
Estes foram controlados à distância através de troca de correspondência muito
cuidadosa e elaborada, e guardada, religiosamente, conforme se comprova pela
documentação.
Tudo
fez para proteger a sua família e satisfazer a maior parte dos pedidos de ajuda
que lhe eram permanentemente solicitados. Mas, devido à sua personalidade integra
e muito própria, nem sempre acedia aos apelos que lhe eram feitos. Merece
realce o grande pormenor e rigor na organização dos registos de todos os empréstimos e respetivos pagamentos.
Como
prova da dimensão dos seus bens, em Baltar, tinha permanentemente ao seu
serviço um conjunto de pessoas: pedreiros, carpinteiros e trabalhadores
agrícolas, que comiam diariamente na grande cozinha de sua casa.
Aquando
da sua morte e, por ser solteiro, os seus bens contemplavam uma tão vasta
quantidade de património, não só em Portugal como no Brasil, bem como em papel
financeiro. A sua herança gerou um conflito entre duas fações de familiares,
cujos trâmites em tribunal perduraram cerca de 20 anos e ficou conhecida, na
época, - “Questão de Baltar”.
A
guerra jurídica prevaleceu para o lado dos familiares herdeiros no testamento,
em prejuízo dos familiares que nada herdavam e que entendiam ter o mesmo direito.
Esta “Questão” só terminou em decisão na última instância, no Supremo.
Do
seu testamento resultou que, a sua fortuna seria distribuída por mais de 120
pessoas e instituições. Resumidamente, pode-se mencionar as seguintes
instituições listadas:
-
na cidade do Rio de Janeiro: a Sociedade Portuguesa de Beneficência, a Ordem
Terceira de S. Francisco, o Gabinete Português de Leitura e a Caixa de Socorro
D. Pedro V;
-
em Portugal, a Creche da Santa Marinha, em V. N. Gaia e no Porto: Santa Casa da
Misericórdia, Asilo da Ordem do Terço, Asilo de S. João, Asilo das Velhinhas e
Asilo dos Velhinhos, Asilo Barão Nova Sintra, Irmãzinhas Pobres, Oficina de S.
José, Creche do Comércio do Porto, Creche da Infância Desvalida, Pobres Protegidos
do Comércio do Porto, Casa de Caridade dos Surdos-Mudos, Presos da Cadeia da
Relação do Porto; e no concelho, onde nasceu: Santa Casa da Misericórdia,
Associação de Socorros Mútuos, Associação dos Bombeiros Voluntários e Presos da
Cadeia de Paredes.
Todos
os restantes bens foram primorosamente distribuídos pelos seus familiares e
empregados pessoais, assim como, teve o cuidado em não desfazer quintas e
parcelas, que mais se adequavam entre si a fim de evitar o fracionamento desses
bens.
De
todos os irmãos, Victorino, terá sido o maior impulsionador e apaixonado pela
sua terra natal, ao deixar a distribuição futura dos seus bens de forma ponderada
e criteriosa.
A
generosidade e a correção das suas ideias eram evidentes, quer pela forma como
era reconhecido por todos quer pela retidão das suas decisões.
Desta
família seguiram os passos da emigração muitos outros sobrinhos, que se
serviram da empresa inicial, Pereira e Valentim, para prosseguirem o caminho do
enriquecimento.
Dos
5 filhos emigrantes de Manoel Coelho Pereira e Maria Thomásia Coelho Barbosa, 3
deles deixaram as marcas na sua terra natal através de terrenos agrícolas, montados,
quintas e fundamentalmente das suas casas chamadas “brasileiras”, que marcam
atualmente a Vila de Baltar.
Victorino,
talvez, por ter vivido parte da sua vida em Baltar, foi o que teve mais cuidado
na preservação dos seus bens, nomeadamente da sua casa, deixando a familiares
de maior estima e consideração, conforme mencionado no seu testamento.
Muita
mais informação poderá ser divulgada pela muita documentação de Victorino, compilada
em arquivo de sua casa e cujos atuais familiares a preservam.
Haja
intenção futura na sua divulgação!
(artigo da Revista Orpheu nº. 2, Câmara Municipal de Paredes)
Olá poderia me ajudar confirmando se essa família teria conexão com José Victorino Coelho?
ResponderEliminarCaro Sr(a), não. O nome que questiona não pertence à família. Existe esse nome nos registos paroquiais mas não têm qualquer relação direta com a família de Victorino Coelho Pereira.
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