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27 de fevereiro de 2016

Marco de Termo da freguesia de Sobrado


Foto de Marco de Termo  - "Sobrado 1690"

Esta pedra marcada representa um marcador limítrofe de freguesia cuja inscrição define o seu termo e data - Sobrado e 1690.
A transcrição que se segue foi retirada de um texto elaborado e intitulado de "Algumas notas acerca de quatro marcos de termo da freguesia de Sobrado no concelho de Valongo", por Alexandre Lima, arqueólogo, e que merece ser lido para conhecimento geral, pois esperemos que estas peças nunca venham a desaparecer ou sejam abandonadas.

"Resumo
Documentam-se quatro marcos de termo, em pedra, respeitantes à freguesia de Sobrado (concelho de Valongo) sendo que dois assinalam o limite deste território, a nascente, com a freguesia de Gandra (Paredes), e os outros dois, mais a sul, com os territórios administrativos das freguesias de Campo (Valongo) e Gandra (Paredes).

Introdução
Em 2009, no decurso da realização do acompanhamento arqueológico da construção do lanço da autoestrada A41 - Picoto (IC2)/Nó da Ermida (IC25) Trecho 3.2 - Campo / Nó A41/A42, integrado na denominada Concessão Douro Litoral foram identificados dois marcos pétreos de termo, com a inscrição <Sobrado 1690>. No intuito de obter informações sobre estes achados entrou-se em contacto com responsáveis pelo património cultural das Câmaras de Paredes, Santo Tirso e Valongo que, com muito agrado, resultou na comunicação da existência de outros dois marcos semelhantes, mas que exibem a inscrição <Sobrado 1692>. Os três primeiros, implantados no limite da freguesia de Sobrado com o território da freguesia de Gandra e o quarto , mais a sul, com os territórios administrativos das freguesias de Campo e de Gandra.
Com esta notícia pretende-se dar a conhecer estes marcadores territoriais e prestar contributo no processo de construção e compreensão da história local, particularmente numa perspectiva crono-espacial de âmbito municipal, em termos de administração civil e religiosa durante a última década de seiscentos.

1. Enquadramento geográfico e geomorfológico
A vila de Sobrado faz fronteira com a cidade de Alfena, com a cidade de Valongo (a sede do concelho), com a vila de Campo, com Gandra e Lordelo (do concelho de Paredes), com Água Longa e Agrela (concelho de Santo Tirso) e ainda com Seroa (concelho de Paços de Ferreira).
Do ponto de vista geomorfológico os marcos delimitam um território onde predominam as formações metassedimentares, essencialmente xistos, e grauvaques aflorantes. Do relevo assimétrico, o território tem uma morfologia muito recortada, caracterizada por uma sucessão de cabeços, de formato relativamente arredondado, e de vales apertados, em contraste com o vale baixo e aberto que rodeia o Rio Ferreira. Este ultimo desenvolve-se numa extensa área, baixa e regular, com depósitos aluvionares extensos e de grande destaque.

2. Localização e caracterização dos marcos
Tal como referido anteriormente, os três primeiros marcos estão implantados no limite nascente da freguesia de Sobrado e o quarto marco situa-se mais a sul, no limite entre os territórios administrativos das freguesias de Campo e Gandra. (...)
O marco 1 está localizado numa pequena cumeada coberta, por um eucaliptal sobranceira ao lugar da Costa, à face do caminho florestal que percorre, como tantos outros, os meandros da serra (...).
É um monólito granítico fincado no solo, de secção quadrangular e contorno regular, com cerca de 120 cm de altura e 40 cm de largura. Na face voltada sensivelmente a norte, conserva a inscrição <Sobrado 1690>. As inscrições ocupam a metade suoerior do marco uma vez que os caracteres, gravados por puncionamento e abrasão, têm uma dimensão significativa, na ordem dos 10 cm de altura cada e sulcos largos que atingem 1,5 cm de largura. A inscrição distribui-se por três linhas: Sob / ado / 1690.
Representação do marco 1

O marco 2 está localizado cerca de 400 m a sul do marco 1, em encosta sobranceira aô lugar da Costa, encontrando-se igualmente à face de um caminho florestal que intercepta para norte o caminho que ladeia o marco 1 (ver foto).
É igualmente um monólito granítico toscamente afeiçoado, de contorno regular, mas de secção rectangular, com cerca de 80 cm de altura, 25 cm de espessura e 60 cm de largura. Está ligeiramente tombado para norte, em consequência, certamente, de surribas levadas a cabo para plantação de eucalipto. Na face voltada a oeste exibe a inscrição <Sobrado 1690>, que ocupa a totalidade da face do marco. Os caracteres, gravados por puncionamento e abrasão, têm igualmente uma dimensão significativa, de cerca de 10 cm de altura cada um, e sulcos largos que atingem 2 cm de largura (...).
Representação do marco 2 (ver foto)

A localização dos marcos 3 e 4 foi-nos comunicada pelo Dr. Paulo Moreira, do Arquivo Municipal de Valongo, e pela Drª. Paula Machado, do Museu Municipal, quando estabelecemos contacto com esta autarquia no sentido de adquirir informações que permitissem contextualizar os dois primeiros marcos citados.
O marco 3 está localizado numa pequena cumeada a norte do lugar de Vilarinho de Baixo/Flor, embutido num muro de divisão de propriedade, construído com blocos de xisto.
É um monólito granítico de secção subtriangular, com cerca de 88 cm de altura e um contorno direito em dois terços do corpo, que é caracterizado por uma largura média de 30 a 40 cm no ultimo terço, conferindo maior resistência à base. Na face voltada a noroeste exibe a inscrição de <Sobrado 1692>, que ocupa o terço superior do marco. Os caracteres, também gravados por puncionamento e abrasão, tal como os anteriores, têm de igual modo uma altura significativa, na ordem dos 10 cm e sulcos largos que atingem 1 cm de largura. A inscrição distribui-se por três linhas: Sobra / do / 1692.
Representação do marco 3

O marco 4 está localizado numa pequena cumeada, ocupada por vinha, sensivelmente a norte do lugar de Além Rio. Tal como os anteriores. é um monólito granítico fincado no solo. Tem secção subquadrangular, cerca de 73 cm de altura, 46 cm de espessura e 37 cm de largura máxima. Tem contorno ligeiramente ovalado e na face voltada a Este Noroeste exibe a inscrição , que ocupa a metade superior da face do marco. Os caracteres, gravados por puncionamento e abrasão, não são facilmente visíveis, contrariamente aos restantes marcos, o que se explica pela natureza grosseira do granito utilizado. As letras têm uma dimensão considerável, na ordem dos 10/12 cm de altura e sulcos largos que atingem 2 cm de largura. a inscrição distribui-se por três linhas Sobra / do / 1692.
Representação do marco 4

A observação macro das principais particularidades de cada marco justificam uma breve análise estilística do conjunto, nomeadamente sobre as características das suas gravações.
Verifica-se uma certa homogeneidade nos marcos identificados. As letras são de dimensão significativa (pois que interesse teria um marcador territorial se não fosse para ser avistado), ocupando geralmente a metade superior do corpo granítico (a utilização deste suporte é comum aos quatro marcos). A inscrição está distribuída por três linhas e parece haver traços estilisticamente comuns na gravação, por exemplo, das letras "s" e "b", sempre utilizadas em capital. Distinta é a forma dos "d" nos dois últimos marcos de 1690 comparativamente com os de 1692. Mas, serão estas analogias suficientes para indigitarmos a concepção, ou a execução, dos marcos a um mesmo artífice? Talvez sim. Contudo, ainda não temos dados que o possam comprovar. Fica por ora o seu registo para memória de Sobrado. 

3. Considerações finais
O território de Sobrado ou Sancti Andree Subrato, com é referido nas Inquirições de Afonso III, de 1258 (Herculano, 1868), estava incluído no julgado de Aguiar de Sousa (Capela, 2009) cujo limite ocidental era naturalmente traçado pelo rio Ferreira. As inquirições referem como meu seu senhor Domni Egidii Martini, portanto, D. Gil Martins, Senhor de Riba Vizela, que era aí possuidor de diversos casais honrados e muito provavelmente detentor de uma fatia substancial do padroado da Igreja de Santo André de Sobrado.
Sabe-se ainda que no séc. XV alguns destes casais eram propriedade do rico mercador do Porto, Fernão Álvares Baldaia, cuja fortuna foi devidamente apresentada por Ivo Carneiro de Sousa (Sousa, 1983) num artigo publicado na revista "Humanidades". Aí é documentada uma extensa lista dos bens citadinos e rurais de Fernão Álvares Baldaia, onde consta que o mesmo era proprietário de três casais e uma quebrada na honra de Sobrado. É certo que estas e  outras pertenças no território de Sobrado continuaram na posse da família dos Baldaia, conforme se verifica na documentação alusiva à freguesia. O inventário das freguesias, publicada pelo Padre António Carvalho Costa (Costa, 1706), acerca do Foral do concelho e julgado de Aguiar de Sousa, outorgado por D. Manuel em 25 de Novembro de 1513, refere "Santo Andrè de Sobrado, Abbadia da apresentação dos Baldayas do Porto, família antiga & nobre (...)", e assim permanece nos anos subsequentes se tivermos em consideração que  As Memórias Paroquiais de 1758, fazem referência a esta família, a então descendente Dona Maria Clara Baldaia de Sousa e Tovar e seu marido João Alves Pamplona Carneiro Rangel como representantes do padroado da Igreja de Santo André de Sobrado.
Faltam apurar os resultados do  domínio filipino exercido sobre este território, muito embora pese o facto de  que, grosso modo, a estrutura jurídica se tenha mantido, na forma de comarcas, provedorias, ouvidorias, concelhos dioceses e freguesia (estas ultimas sob domínio e jurisdição eclesiástica), então reguladas pela Lei Geral, mencionada nas Ordenações Filipinas de 1603  (Silva & Hespanha, 1997).
Este modelo de organização jurídico-administrativa prevalece até à reforma administrativa de 1836 (ainda que se registem alterações significativas no seio da elite senhorial, com a extinção dos Coutos do Reino em 1692, decretada por D. Pedro) e tal facto está documentado de uma propriedade no lugar do Paço, em Sobrado, realizado entre o Abade Francisco Marques e Domingos André e João André, datado de 27 de Fevereiro de 1690, onde é referida "a igreja da freguesia de Sobrado, do Concelho de Aguiar de Sousa do termo da cidade do Porto". E assim subsistiu até 1821, data da extinção do concelho de Aguiar de Sousa, passando a pertencer ao julgado de Penafiel até à reforma administrativa de 1836, encetada por Passos Manuel e promulgada em Decreto pela Rainha D. Maria II (Decreto de 6/11/1836, Diário do Governo nº 283, de 29 de Novembro de 1836), passando a integrar desde então me até à actualidade o concelho de Valongo.
A implantação destes quatro marcos traduz uma delimitação territorial ocorrida no séc. XVII, cujas circunstâncias da sua implantação estão até à data por aclarar. As datas esculpidas nos marcos enquadram-se no quadro legislativo que esteve na base da extinção dos Coutos do Reino, decretado por D. Pedro através da Carta de Lei de 13 de Setembro de 1691 (Livro X da Supplicação) e de 10 de Janeiro de 1692 (Livro VI de Leis da Torre do Tombo), que se traduziram na clara perda de de privilégios e doações (...). Talvez sejam estes marcos o testemunho físico da aplicação da Lei, que se reflectiu certamente na transferência e circunstância de novos territórios."

14 de fevereiro de 2016

Placa de Rua - Porto

Escadas das Verdades, freguesia da Sé - Porto

Escadaria de acesso à zona do Barredo e à Ribeira, na zona da Sé, com entrada pela fachada sul da casa episcopal, pela rua D. Hugo.
Anteriormente, a designação era de escadaria das Mentiras, e os ditos populares expressavam que a razão do nome se prendiam pelo facto de que as mulheres moradoras e vizinhas, nas suas conversas entre si, umas contavam verdades e outras diziam mentiras.
No seu pequeno percurso encontra-se o "arco das Verdades" a que está associado uma das portas que existiam na muralha primitiva, designada de muralha Sueva ou também de "Cerca Velha".
Também lhe chamavam Porta das Mentiras, e que a partir do século XIV, passou a chamar-se porta de Nª. Srª. das Verdades, tomando a actual designação de escadaria das Verdades.. 
Desconhece-se a data do desaparecimento da dita porta, mas o arco, que ainda lá existe, servia de aqueduto, já que dela corriam as águas da nascente de Mijavelhas (actual Campo 24 de Agosto) para abastecimento a Mitra e fontes de Pena Ventosa onde o povo se abastecia de água.

Vista superior do arco das Verdades

Vista do arco das Verdade, com vestígios de aqueduto

Fontanário existente

Vista em sentido ascendente


8 de fevereiro de 2016

Brasão dos Beça e Barbosa - Penafiel


Pedra de Armas de Beça e Barbosa

A pedra de armas em granito, de fantasia, cortada, com I - Beça e II - Barbosa, apresenta um elmo gradeado e um timbre do primeiro, de Beça, com um lobo sainte.
Esta pedra, originalmente não se encontrava fixa ao cunhal desta casa rústica, tipica rural que se situa numa rua designada de rua do Cavalum, perto do Parque da Cidade.
Segundo Simão Rodrigues Ferreira, historiador penafidelense, nos seus apontamentos para a história topográfica de Penafiel, refere-se a esta pedra como tendo a sua origem num prédio que serviu de Paço, quando Penafiel tinha bispado próprio e que cuja edificação pertenceria a uma senhora das famílias Beças d'Arrifana, antiga designação de Penafiel, à época.
Esta senhora, terá casado com um Sr. de Barbosa tendo colocado na fachada de sua casa as armas de ambas as famílias.
Quando adquirida a casa por parte do bispado, para residência do bispo, as referidas armas foram apeadas, por parte do Sr. Dr. José Pereira Monteiro, alegando o parentesco com a família tendo-as colocado na esquina da actual casa e quinta do lugar do Cavalum, que lhe era pertença.
Com o tempo, provavelmente esta quinta terá sido dividida por questões de partilhas de heranças e a casa onde se insere a pedra encontra-se agora designada de Quinta do Laranjal.


Esquina da casa onde se encontra a pedra de armas

Sobre esta casa, o referido historiador, acrescenta que lá terá nascido o Conselheiro António de Azevedo Melo e Carvalho, a 11 de maio de 1795, notável figura para o concelho e para Portugal.
Formou-se na Universidade de Coimbra em 1811, tendo exercido vários cargos da magistratura no Brasil e o de Juiz da Relação de Lisboa, tendo sido posteriormente presidente da mesma.
Pertenceu ao Supremo Tribunal de Justiça, ainda antes tinha sido de juiz de fora, em Coimbra, tendo-se notabilizado como ministro do reino e de ter emitido uma Portaria de 8 de Novembro de 1847, onde determinou que todos os concelhos e respectivas câmaras municipais elaborassem um livro especial, denominado "Anaes do Municipio", onde todos os anos se deveriam registar os acontecimentos e factos mais relevantes que ocorreram nesse concelho, cuja memória seria digna de se conservar e que merecesse ser transmitido às gerações vindouras. Infelizmente tal diploma não teve a sua aplicação no País e então ter "caído em saco roto".
Vista geral da casa rústica e singela

António Azevedo Melo e Carvalho

Sobre esta casa, o referido historiador, acrescenta que lá terá nascido o Conselheiro António de Azevedo Melo e Carvalho, a 11 de maio de 1795, notável figura para o concelho e para Portugal.
Formou-se na Universidade de Coimbra em 1811, tendo exercido vários cargos da magistratura no Brasil e o de Juiz da Relação de Lisboa, tendo sido posteriormente presidente da mesma.
Pertenceu ao Supremo Tribunal de Justiça ainda antes de juiz de fora, em Coimbra, tendo-se notabilizado como ministro do reino e de ter emitido uma Portariade 8 de Novembro de 1847, onde determinou que todos os concelhos e respectivas câmaras municipais elaborassem um livro especial, denomindado "Anaes do Municipio", onde todos os anos se registem os acontecimentos e factos mais relevantes que ocorreram nesse concelho, cuja memória seja digna de conservar-se e que mereçam serem transmitidas às gerações vindouras, não tendo sido aplicada no País e se ter "caído em saco roto".

Ponte das curadeiras do rio Cavalum - postal antigo

O nome da rua deve-se à existência de um pequeno rio que outrora vagueava pela pequena encosta perto desta casa, onde nasce, corre e morre no concelho de Penafiel.
Deste rio, narram-se histórias do aproveitamento da sua água, por parte do Barão da Lajes, para produção de energia eléctrica de sua casa e propriedade, na Quinta das Lajes, em Milhundos. Ainda existem indícios das suas construções no período em que em Penafiel ainda não existia electricidade e já este excêntrico e ilustre e abastada figura, investia numa modernice que à época se considerava arrojada.

http://penafielterranossa.blogspot.pt